domingo, 14 de março de 2010

O conto do mergulhador

As vezes, a vida realmente me surpreende. Por mais que todas as coisas estejam mudando o tempo todo diante de nossos olhos, na maioria das vezes eu não vejo nada.
Depois de quase 4 meses sem escrever neste blog, volto para registrar um relato muito peculiar, que aconteceu num dia e num momento muito impróprios para tal conversação, pura casualidade. Encontrei-o sentado num banco olhando as águas do rio à frente e talvez estivesse ali tentando reavivar as lembranças de sua aventura. Era um mergulhador, já grisalho, que me contou que em um sábado qualquer acordou sentindo algo diferente. Uma vontade subjetiva, uma intuição muito forte de que deveria ir pra longe dali, de sua vida normal. Segundo contou em sua história, passou 21 dias a deriva no mar e mais 4 meses em uma ilha local. Eu acho que ele realmente não esteve ali. Podia ser um louco disfarçado de gente comum. Mas durante os 30 minutos que ouvi o estranho homem contar sua história com um sotaque meio francês, meio espanhol, havia um brilho em seu olhar que me fazia acreditar que alguma coisa ali era real. Ele me contou que havia escrito um livro contando mais da viagem, mas nunca o havia publicado. Pediu o meu endereço de email e me enviou essas linhas, que eu tentei traduzir da melhor forma que pude.

“É como que num décimo de segundo, quando ocorre uma explosão imperceptível e silenciosa, é a partir daí que você mergulha no oceano de si mesmo. Se deixa levar pelo que vive ali embaixo, e se deixa transmitir todas as mensagens, subliminares ou não, bombardeadas instantaneamente. A única coisa a fazer é direcionar a si mesmo, realizando um ajuste fino muito leve, apenas para que a mensagem não perca a essência de mensagem e passe a ser palavras aleatórias concatenadas e pontuadas. Deixar-se levar por essa maré é inicialmente incômodo, nauseante se parafrasearmos a macroscópica linguagem marítima. É preciso TEMPO para se acostumar com o balanço das ondas, saber quando e como agir, esteja você na crista de uma onda ou não. O que deve ser constante é a consciência da sua própria capacidade e pensamento positivo; este último será extremamente útil nas tormentas e tempestades. Mas, confirmando a teoria da transitoriedade das coisas materiais, vai chegar o dia de desembarcar, de vir a tona e experimentar outra realidade. Não é mais a água que lhe envolve; agora um fluido muito menos denso: o ar. Resta apenas olhar pra trás e reviver mentalmente a mágica  aventura nas profundezas de oceanos e mares, e sobretudo sentir-se agradecido de ter conseguido cumpri-la com sucesso. Com certeza, você relembrará acertos e erros; decisões precipitadas e acertadas. As dificuldades perderão toda a parte do sofrimento e serão apenas boas recordações.
E ao pisar na areia úmida de uma praia em algum lugar do mundo que não conhecemos, senti uma sensação de conforto e alívio tão grande como nunca havia sentido. De haver conseguido estar ali, de ter enfrentado todos os que me taxavam de louco ou estranho, de ter cumprido a minha missão comigo mesmo. E mais, de ter todo um mundo novo pela frente”

Um comentário:

  1. Você é mesmo especial, né!?
    Tudo de bom pra vc!
    Beijos
    Larissa

    ResponderExcluir

E aí?